Da velha cidadania representativa para a cidadania participativa.
Autonomia é o
principal ingrediente da iniciativa participativa. Apesar da globalização e os
inúmeros recursos comunicativos, tecnológicos e grande quantidade de programas
de conscientização ambientalista, bem como da importância da nossa partipação
na construção de nossa própria sociedade, a maioria dos cidadãos ainda não
compreende que a sociedade em que vive é formada, constituída e gerenciada competentemente
ou incompetentemente pelos membros de sua família, comunidade de
bairro,comunidade educativa(escola),comunidade urbana(cidade),comunidade
rural(o homem do campo que alimenta a cidade), governos locais, e assim por
diante. Portanto tudo o que fazemos em nossos dias, horas, ou o que não fazemos
incide em nosso entorno, irradia e depois nos retorna. Assim compreendemos que
tudo de bom ou ruim que existe tanto longe de nós como bem perto, é feito de
sujeitos reais e não forças alienígenas, tanto agindo para o bem, como para o
mal, tanto só para si como para o bem coletivo. No entanto é preciso maturidade
conciencional e um bom arquivo de informações relevantes, para entendermos o
quanto somos não somente responsáveis por nós mesmos, ou pelo nosso grupo
familiar, mas também pelo nosso grupo de vizinhos, nosso grupo de moradores de
bairro, de nossa cidade e toda a nossa grande sociedade global.
Essa introdução eu
escrevi, porque acho muito importante dizê-la todas as vezes que vou divulgar
algum exemplo de ato heróico nessa nossa luta por uma nova sociedade, porque
sabemos que a sociedade vigente contaminada pela "filosofia"
capitalista e tecnocrata, falhou ao produzir inúmeros sitemas excludentes,
poluição ambiental, uma gama de doenças psico-emocionais(estresses,depressão) e
todo o nosso sonho de uma vida com mais qualidade quando se esqueceu convenientemente de que o homem é produto da natureza e dela precisa para viver bem. Os shoppings, a internet
apesar de tudo de bom ou ruim que nos trouxeram não nos garantiram melhoria
significativa na qualidade de vida. Eu acredito que a tão sonhada qualidade de vida
esteja e somente seja possível se o homem se reconectar com a Natureza. O
ambiente artificial que nossa sociedade tecnicista e financista nos tem
proporcionado tem produzido indivíduos alienados e desumanizados, apáticos,
desanimados, desesperançados, são autômatos e não autônomos. Mas felizmente
ainda há os que são capazes de romper o padrão de hipnose coletiva alienante,
por amadurecerem consciencionalmente e chamando para si as suas
responsabilidades,sempre buscando autonomia, ativismo, fazem o que se lhes é
possível e alguns até o que parecia impossível. É gente assim que transforma a
sua casa, o seu bairro, a sua escola, o mundo.
Nasce por iniciativa
popular de um grupo de moradores do bairro jardim Acapulco, o Parque da
Siriema, numa área abandonada. Existe no local um grupo de Siriemas nativas que vive
harmoniosamente no seu habitat e convive com os moradores e chamam muito a atenção das pessoas que pela rua estão passando. Muitos carros param e até as fotografam . São animais
lindíssimos e dóceis, que vêm comer na mão dos moradores que se familiarizaram
com eles. É por isso que o parque recebe este nome. As siriemas não são do
parque,mas o parque é que é delas, bem entendido!
Este grupo de
moradores já faz um trabalho de reflorestamento na área, recuperação de
nascentes, e já fez até dois lagos. Este grupo tem a honra de ter um cidadão
construtor de lagos. Chamamos ele de Guardião das águas. Ele se chama Osni, e
começou sozinho a construção do lago, mais tarde algumas pessoas se juntaram a
ele, mas não muitas, infelizmente. A grande maioria ainda não aderiu na ajuda
voluntária e nem mesmo se importa com o que acontece em seu bairro, pelos
motivos que já expliquei na introdução acima. Já temos muitas idéias e muitos
projetos socio-ambientais, o que não temos é gente disposta a se juntar nessa
causa e "arregaçar as mangas" A grande maioria ainda acha que deve
receber, ganhar e não construir.
Mas é com alegria
que eu moradora do Jardim Acapulco da cidade de Marília-SP, e participante
voluntária desse projeto, divulgo aqui o nosso novíssimo Parque da Siriema, que
ainda não está pronto, mas que deve ser uma construção coletiva: voluntária,
participativa e ativista, que segue a transição da cidadania apenas
representativa, exigente e criticante, para a cidadania responsável,
participativa. e atuante na prática de fato.
Márcia Zaros